segunda-feira, 6 de abril de 2009

Diálogos


-Que é isto?
-Isto? É uma carta.
-Carta?! E o que estás a escrever?
-Estou a escrever sobre mim, sobre o que sou e o que gosto de fazer.
-Então essa carta é para uma rapariga? Estás a apresentar-te?
-Não e... não.
-Então?
-Então... nada. Penso que por vezes é chegada a hora de repensar a vida. De analisar o que aconteceu, bom ou mau. De aprender com os erros e passar a fazer bem o que se fez mal, e fazer melhor o que se fez bem.
-Ah! Estou a perceber! Mas escreves isso numa carta?
-Sim. Este eu que escreve fá-lo com o propósito de informar aquele que amanhã cá estará. Será este a fazer a diferença e não aquele do passado.
-Como uma vítima, que antes de falecer deixa uma carta com a identidade do criminoso?
-Não! Não há vítima nem criminoso aqui. O que passou passou e nada o apagará. Agora, cabe-nos olhar em frente e não pensar no que se passou!
-Quer dizer que já estás a pensar no futuro?
-Não! Eu disse que olho, tento não pensar nele. Porque se pensar terei medo. Sabes que o medo é real e natural? Não é só das crianças. As pessoas têm medo do novo e do desconhecido e por isso é que só quero olhar.
-Mas tu tens medo?
-Sim, tenho.
-De quê?
-Bem, de tudo. Não consigo olhar sem ver. Não consigo ver sem observar. Não consigo observar sem pensar. Logo, eu penso no futuro e tenho medo.
-Mas eu estou aqui para ti. Eu protejo-te.
-Obrigado pelas palavras de circunstância, mas não posso permitir que me enganes a mim, e pior que te enganes a ti. A vida dá muitas voltas e tu nao sabes realmente se estarás aqui.
-Mas eu vou estar.
-Quem me dera.

Sem comentários: