
Um dia como os outros. A manhã era triste, uma neblina que mal deixava ver o sol. Aquele tipo de neblina que nos faz pensar como o mundo é triste. Aquele tipo de neblina que nos dá a volta por dentro e nos faz querer ficar no nosso canto e não sair.
Mas para ele, começava um novo dia. Havia decidido que era altura de mudar. Mudar o seu destino, esquecer as tristezas de antigamente e partir. Partir rumo ao desconhecido e aventurar-se naquilo que a vida tinha para oferecer.
Mas aquele tempo. Tantas recordações lhe passaram pela mente no instante em que o seu corpo transpôs a porta. Tantas recordações de como a vida é uma prisão, um conjunto de provas que por mais que se ultrapassem continuam a aparecer à frente.
Havia muito tempo que não se sentia assim, em baixo por causa das suas lembranças. Tudo lhe passou pela cabeça, desde emoções, momentos, marcas que o fizeram como é.
Nos seus ouvidos tocava uma música: "Manhã Submersa". E que música para um dia daqueles. A música de um amor correspondido mas ignorado pelos seus intervenientes, um mundo em que as coisas não são como deviam, uma imagem do seu próprio mundo.
Apeteceu-lhe correr. Apeteceu-lhe desaparecer ao descobrir que não conseguia avançar ainda. Estava perdido e isso era tão confuso. Apeteceu-lhe chorar, não por tristeza, apenas porque sabe bem libertar emoções como aquelas. Não sabia o que sentia.
À porta de casa e sem saber o que fazer, decidiu correr no sentido oposto ao da escola. Decidiu que era altura de correr, fugir do mundo e procurar um lugar só seu. Um lugar que lhe desse paz interior e lhe desse uma oportunidade de analisar tudo de forma indiferente.
Correu. Foi livre por momentos e agora com a face cheia de lágrimas, sorria.
Parou. Estava a sorrir apenas por ter decidido correr.
Riu-se da situação. Riu-se como se lhe tivessem contando a melhor das anedotas. Riu do ridículo que era a sua vida, os sentimentos, os seus pensamentos.
Ao descobrir que não era capaz de arriscar, ele arriscou e isso foi o melhor que podia ter feito. Atirou-se ao risco com toda a vontade e agora ria. Nem uma lágrima corria pela sua face e a vontade de desaparecer já não estava lá.
Voltou atrás e seguiu para a escola. Não correu. Andou muito calmamente, apreciando todos os passos, apreciando todos os planos para esta nova vida. Estava a sorrir e envolto em pensamentos, por isso não viu entre as nuvens um raio de sol. Tal como ele, este raio havia arriscado e lá estava brilhando. Aquele era o seu raio de sol. Um raio de mudança, um feixe de luz para a sua vida futura.
1 comentário:
Esse rapazinho é muito esperto em reparar nas pequenas coisas. E também por se rir apenas por ter vontade :)
Gosto desse rapazinho ;)
Não teria piada se não houvesse obstáculos :D
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