Duas semanas depois de abandonar o ventre materno, contava já com 35 anos.
Na primeira semana, logo após o dia em que ficou no hospital e foi amamentado, foi enviado para a creche, e poucas horas depois figurava já no quadro de honra da escola primária. Passou com distinção o ensino básico, sendo que o seu ponto mais fraco eram as artes plásticas. Segundo diziam, não tinha vivido o suficiente para ter uma visão mais criativa e abrangente. No ensino secundário, realizado no fim da primeira semana de vida, passou a tudo, acabando com uma média de 10,43 valores, por se ter dedicado em demasia ao estudo do corpo das colegas do sexo feminino. Com a ajuda dos pais, na segunda terça-feira de vida, entrava numa universidade pública, de onde saiu com licenciatura e com algumas perspectivas de trabalho. Começou a trabalhar no dia seguinte, e poucas horas depois foi despromovido a arquivador, por não ter uma visão criativa.
Agora, com 35 anos, sente-se triste. Sente que perdeu muito que poderia ter visto, mas que apenas se concentrou em fazer o que a sociedade quis que ele fizesse, e que depois acabou por lhe tirar por ele ter feito isso exactamente.
Viveu apenas mais uma semana, partindo com 45 anos. Era ainda novo, mas foi asfixiado pela sociedade e pela pressão do dia-a-dia.
2 comentários:
Somos corpos que coordenam os movimentos, movimentos que já são esperados. Ninguém tem coragem de sair da rotina de movimentos. E tem de haver coragem. Para um dia não chegarmos à conclusão que a vida e o tempo passaram a correr por nós. Para um dia não chegarmos à conclusão que nunca fizemos o que realmente queríamos.
conclusão: era do PSD
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