
Olhou a janela. (Não, talvez mirar soe melhor.)
Mirou a janela. (Não, fica mesmo olhou, mas não a janela, pela janela.)
Olhou pela janela. (Sim, muito melhor.)
Olhou pela janela. Olhou, sem ver. À sua frente, os carros passavam, as pessoas corriam tentando proteger-se da chuva como podiam. A água escorria pelas bermas, desaparecendo depois nas grelhas.
A chuva inundava tudo, molhava as folhas das árvores, deixando-as nutridas, deixando-as contentes, mas ao mesmo tempo desesperadas por um raio de sol.
Tudo se passava, no entanto ele não via. Concentrara-se numa gota que caíra no vidro da sua janela e escorria agora, muito lentamente.
Apenas uma gota, aquela que solitária tinha combatido todo o tipo de protecção que as construções humanas oferecem nos dias de hoje. Esta passara, e se tivesse um telemóvel talvez indicasse o caminho a outras. Mas não tinha, e estava sozinha. Percorria o seu caminho, provavelmente vendo aquele humano que olhava para si com cara de espanto e interrogação.
Sim, interrogação. Como teria aquela gota passado? Como? Ninguém o sabe, ninguém o saberá, mas ela passou. E tal como ela, outra passarão e quando já não houver segredos, todas passarão. E então, ele terá que reparar nos outros humanos, pois as gotas serão meramente banais.
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