Comboio até Campanhã. Metro até ao Bolhão.
Entrando na Rua de Santa Catarina constatou o óbvio: era dia do trabalhador. O 1 de Maio, o grandioso 1 de Maio. Aquele dia em que os trabalhadores reivindicam os seus direitos, lutam e lutam até mais não aguentarem. E amanhã lá estarão de volta ao emprego precário, porque não o podem deixar. A vida é triste, não é?
Depois de se aperceber que não havia montras a ver, pensou em como seria interessante ir até à Sé Catedral do Porto, e apreciar a vista da cidade - essa Antiga Muy Nobre e Sempre Invicta Cidade do Porto. Apreciar a beleza dos bairros, apreciar tudo o que esta cidade tem para oferecer e que ninguém aproveita realmente.
Chegado à Sé, deparou-se com um grupo de espanhóis. Turistas que parecendo formigas, se mexiam de um lado para o outro, procurando bons sítios para tirarem uma fotografia que comprove a sua estada na cidade. - Sinceramente, não acho muita piada a fotografias como recordação. Penso que a nossa memória é o que nos dá mais recordações, e apesar de saber que nada impede que um dia essa memória fique fraca, que apanhe um vírus, eu acredito que não atacará aquilo que realmente importa, e serei sempre capaz de chorar, de rir, de pensar e recordar os momentos que me unem ao mundo material. que é tornado único pelos aspectos menos materiais. Não achas?
Procurou então refúgio dentro do edifício religioso. Não se considera católico. Também não é budista, nem muçulmano, nem pagão. Mas não é ateu de certeza. Acredita em algo, ainda não sabe o quê. Acredita que a ciência explica muito, mas ainda há mais do lado do desconhecido, e a mística em redor desses assuntos deixam-no apreensivo. Sabe que um dia deixará este mundo e será maior. Um dia, mas não tem pressas, afinal deram~lhe uma oportunidade e ele quer aproveitar ao máximo.
Manteve-se no silencioso interior da catedral durante cerca de 1o minutos. Foram minutos de reflexão, momentos de pensamentos vagos, entre amigos, conhecidos e desconhecidos a sua mente vagueou.
Quando os turistas do país vizinho se decidiram a entrar, ele saiu. Sentira que o descanso acabara e que necessitava de sair daquele local. Decidiu-se pela Avenida dos Aliados, pois reparara que o edifício da Câmara parecia diferente.
Chegado ao novo local auto-proposto, ouviu ruído, muito ruído. Lá estava a multidão, a manifestação. Faziam-se ouvir. mas não se viam. Viu a polícia, e no meio de um ajuntamento viu a multidão. Na frente uma grande faixa branca com letras que não leu, mas o que lhe causou estranheza foram as pessoas atrás do cartaz. Ele via pessoas de idade avançada. Não via jovens trabalhadores, lutadores. Viu pessoas mais velhas que lutavam pelos direitos de outras gerações, gerações que nada pareciam lutar. Afinal de contas o tempo pedia uma ida à praia. Era dia 1 de Maio. Num cruzamento, os carros buzinavam, contra os manifestantes que lhes barravam o caminho. Esta era a solidariedade de portugueses para com portugueses. Este era o glorioso 1 de Maio.
Ao fundo, avistou-o. Imponente e mais majestoso que nunca, o edifício da Câmara. Renovado e de cara lavada, mostrando uma beleza há muito escondida. Vestido a rigor para um dia de manifestação.
O seu rumo levava-o para a Trindade, quando ouviu um barulho estranho, diferente. Olhou para trás e viu a cena: uma senhora tinha caído na berma do passeio. (Um homem passava. Olhou para a desconhecida e seguiu o seu caminho). Pobre coitada. Visto que tinha tempo, e a Trindade estava próxima, decidiu voltar atrás e ajudar a senhora a levantar-se e oferecer-se para alguma coisa que ela necessitasse. Foi um acto de simpatia, um acto que o fez sentir-se bem, um acto humano e que o pôs a sorrir. Sorriu, ao pensar que se estivesse com os phones, não teria ouvido a senhora cair, e o homem teria passado na mesma, deixando a vítima do passeio abandonada à sua sorte.
Metro até à Casa da Música.
Chegado ao destino, decidiu fazer algo novo. Sentou-se num banco da Rotunda da Boavista. Aproveitou, e apreciou o monumento que lá se esncontra. Pensou nas vítimas de uma guerra de busca pelo poder, e a forma como o país se defendeu dos seus invasores.
(Em seguida, aconteceram acontecimentos do foro pessoal, que não serão relatados neste texto. Interessa apenas dizer que chegou até à Faculdade de Ciências a pé. E que quando lá chegou levava um sorriso rasgado na cara).
Autocarro até à Casa da Música.
De volta a este local que já havia frequentado antes. "Engraçado", pensou ele. "Engraçado como cá estive duas ou três vezes à espera de gente, e como agora este é o local onde saio mais vezes do metro. Como a vida muda. São realmente muitas voltas."
Metro até Campanhã. Comboio até Ermesinde.
Fez tudo isto numa tarde. Sentiu-se livre finalmente. Sentiu que estava no seu habitat, andando a pé por locais conhecidos e locais a conhecer. Adorou todos os momentos, não se arrependeu de nada e aprendeu mais. Está feliz.
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