domingo, 5 de julho de 2009

à noite

o jardim, aquele pequeno refúgio natural dentro da cidade, servia de palco para mais um momento que passávamos a dois. Aliás, este era o nosso primeiro momento a dois, verdadeiramente falando.
estávamos sós, no meio das árvores que apesar de pequenas se tornavam uma óptima companhia, não fosse a minha atenção estar mergulhada em ti. tudo o que dizias era verdade para mim. sempre que falavas, eu apenas te ouvia a ti, ignorando subitamente todos os sons que nos rodeavam, incluindo o do meu próprio pensamento.
deitados, olhando o céu, íamos falando dos nossos dias, curiosamente tão diferentes a nível de conteúdo, mas tão iguais a nível de natureza. sorríamos com a voz um do outro, e sentíamos toda e qualquer sensação transmitida pelas palavras.
chegaste-te a mim e então, como que enfeitiçado, eu respondi, encostando-me a ti, mas sempre a olhar as estrelas. por dentro, todo eu derretia. afinal, nada era como eu esperava, tudo era melhor. digo-te agora que esse foi sem dúvida o momento mais delicioso da minha vida. pedisses o que pedisses, naquele momento era teu. dar-te-ia o mundo se tal desejasses. mas não o fizeste. pediste apenas que te abraçasse, e eu, como uma pequena estátua, fiquei sem saber o que fazer. pela minha mente já nada passava, estava em branco. abracei-te, com o coração a vibrar e a exultar como um louco.
"protege-me" pediste tu.
"sim, proteger-te-ei com todas as minhas forças, darei o meu melhor para fazer de ti a rapariga mais feliz do mundo, desde que me aceites nesse teu mundo tão privado, tão exclusivo"
um silêncio nasceu entre nós. o silêncio. todas as folhas haviam parado de dançar ao vento, todos os carros haviam parado nas estradas que por perto passavam, e mesmo os animais noctívagos pareciam ter recolhido. foi então que o ouvi. era o mais belo som do mundo. era o som da tua respiração. uma respiração suave, leve, que transmitia segurança, conforto e que me fez arrepiar. esperava resposta e o silêncio mantinha-se. olhei-te e vi que dormias. uma sensação de alívio percorreu-me todo o corpo, e respirei bem fundo. aconcheguei-te em mim, e aproveitando o som da tua respiração e os ruídos da natureza que entretanto haviam voltado, comecei a divagar. pensei em tudo, sem nada concluir. estava apenas a passear entre pensamentos. foi então que tudo se apagou e a fadiga me venceu também. acordámos separados, tal como havíamos começado na noite anterior, e eu nunca soube se o teu pedido tinha sido para mim, ou apenas um sonho.

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