sábado, 14 de setembro de 2013

Ele olha para o relógio e as horas ficam registadas na sua mente. Pousa os olhos no livro à sua frente, e quando devolve o olhar ao relógio o ponteiro dos segundos parece não se ter movido, "como é possível?". O tempo parece não passar quando está sozinho. Depois de um dia onde tudo à volta é cinzento, chega a casa à espera de encontrar uma luz, uma cor, mas no seu lugar encontra apenas um vazio, que se não é cinzento, ele dirá que dessa cor é, pois ela não está lá. Pega na caneta e no papel e começa uma carta. É sem dúvida uma carta imaginária, mas é uma carta. É para ela, mas na sua mente só há uma palavra: "saudade". E ao escrever toda uma carta em torno desse substantivo que desde novos, com muito orgulho, nos ensinam que é só nosso, ele percebe que a carta é triste, e por isso deixa que todo o rio de palavras seque, deixando apenas mais uma carta inacabada.
"Vai ser amanhã!", assim pensa ele todos os dias. Mas naquele ele sabe que não vale a pena pensar assim. Naquele dia o tempo não vai passar depressa (o ponteiro ainda está na mesma), naquele dia não vai haver cor. E saber que amanhã também não a verá, é pior do que saber que hoje não a viu. Por isso, ele pega no telefone: "Vou ligar-lhe para ouvir a sua voz", mas depressa desiste. Existirá alegria maior do que ouvir a voz de alguém que se ama ao fim de algum tempo de ausência? Existirá algo pior do que saber que quando essa chamada terminar a ausência ainda lá estará? Por isso ele hesita... Por isso ele fica a olhar o relógio e vê que agora ele andou, mas menos do que seria suposto. Não percebe o que se passa, mas lá no fundo não lhe interessa pensar nisso, pois sabe a resposta: saudade. E só lhe resta guardar a imagem que tem, revivê-la e esperar pela próxima oportunidade.

1 comentário:

Á disse...

Tudo vai ao sitio (: